terça-feira, 25 de março de 2014

Ensaio sobre a vida no café

A vida no cafezal é rústica, porém vivida. É assim o cultivo do café no sul de Minas, em "ruas", ladeando os morros verdes que marcam o relevo dessa região com altitude de mais de 1 mil metros. É uma região de clima ameno de ar bastante frio nas épocas de maio e junho, e bastante chuvosa entre janeiro e março. 

Mas foi diferente durante o verão de 2014, prolongando uma estiagem até março, só quando os primeiros pingos verdadeiramente carregaram o pluviômetro. Esse jeito manhoso de chegar a chuva assustou muita gente, deixou alguns produtores alarmados e outros bem agitados. E nessa terra de altitude elevada e raras planícies, o café sentiu essa seca e manteve-se altivo, como que se depois da esperança, ainda restasse toda a honra.

Mesmo na terça, na quarta, e até no sábado, o café do sul de Minas resistiu, e continuou a resistir quando as primeiras chuvas caíram, querendo aparentar que aguentava muito mais. Mas a água desceu e rapidamente acalmou essa sua rigidez, essa tensão de quem, como todo bom mineiro, não cai no primeiro tombo. A água que acariciou as folhas, mimou novamente os pés de café deixando-os mais delicados e menos ríspidos. Os bichos gostaram, as aranhas voltaram a confiar às suas teias a arapuca, e nelas as moscas e besouros repousaram-no destino da cadeia alimentar, serenos, sabendo que a vida nos cafés continuava a ser vivida, e que era a existência deles - moscas, besouros e aranhas - a responsabilidade de contra existir bactérias, fungos e pragas nocivas ao "bicho" café.

As chuvas de março que fecham o verão, dessa vez demoraram tanto a chegar que praticamente abriram o outono. E com ele, outas dezenas de possibilidades de vida, de frutos e de colheitas.